"Não nos faltam imagens do vazio. paisagens desoladas, desertos sem um camelo sequer, o espaço negro entre os astros. mas depois do jogo do Brasil com a Argentina uma imagem se fixou na nossa mente como a definição do vazio: a distância entre o centroavante Rafael sobis e o resto do time. Durante todo o jogo, rafael Sobis viveu numa solidão de náufrago, cercado por um mar de listars azuis. Nenhum companheiro se aproximou dele, nem para perguntar como estava passando. Ninguém sequer lhe abanou de longe. Rafael Sobis soube como vivem os réprobos e amaldiçoados, e as adúlteras dos tempos bíblicos.
Foi durante todo o jogo, um Robson Crusoé antes do índio. Um Napoleão em santa Helena sem sua corte e seus guardas, sozinho com suas memórias de glórias longíquas. Se Dunga fosse Deus, Rafael Sobis teria todo o direito de chegar na beira do campo e gritar: "Senhor, Senhor, por que me abandonaste?" Dunga não é Deus, mas seus desígnos também são misteriosos. Talvez sua intenção fosse mesmo nos dar uma visão da condição trágica do Homem, só num Universo hostil, com argentinos bicando seus calcanhares por toda a eternidade. Não há outra explicação."
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