Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

quinta-feira, 21 de março de 2013

Canção das Mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

segunda-feira, 4 de março de 2013

O tempo

Uma foto sobre a minha mesa do trabalho denuncia o que o espelho me revela todos os dias. O tempo passa. Mesmo. Nas minhas crises de limpeza e organização em casa, desencavei a tal imagem no meio da bagunça e trouxe para escanear. Eu não devia ter mais de 15 anos, cabelos longos, dentes ainda desacertados (o aparelho só veio depois). Ufa... Quanta diferença. Semanas depois, mostrei-a a um amigo que logo me disse que não sou mais aquela pessoa. Disso eu já sabia. Mas confesso que as palavras se concretizando me chocaram. Logo depois, porém, me peguei olhando para aquela imagem e pensando nas rugas, quilos e experiência que se acumulariam naquele corpitcho anos depois. É doído, mas é verdade: o tempo é mesmo cruel.
Sim, ele é o melhor dos mestres, mas de uma impiedade cirúrgica. Um belo dia, você se olha e dá de cara com uma dezena de variações na pele, nas curvas, nos olhos que não estavam ali algum tempo antes. Fazer o quê? Como dizia minha mãe, "fazer do limão, uma limonada". Minhas olheiras também não me deixam mentir: a vida acelerou. É tanta pressão e tão pouco descanso que é impossível que a estrutura dada por Deus não demonstre o cansaço.
Ao mesmo tempo, a cabeça melhorou. Estou mais focada, mais certa de que quero ser feliz, mais exigente, mais durona. Choro, mas faço o que tem que ser feito. Cheia de manias, mas cheia de esperança na minha intuição. Antes, a maquiagem não me servia; hoje me deparo com tutoriais que chamam minha atenção. Preciso dar uma mão aos anos que se passam cada dia mais rapidamente e não posso mais fingir que isso não me afeta.
Sei que para ter algumas coisas é preciso abrir mão de outras. Aprendi a ser mais solícita, gentil, bondosa. E saber que isso não quer dizer ser boazinha. Perdi o medo de ser mulher, mesmo que a menina que exista em mim esteja atrás das cortinas assistindo tudo.
Ainda há muito o que fazer: a academia é fundamental, os batons e pós faciais imprescindíveis e as roupas ganham nova importância. Mas, em compensação, já entendo melhor o que é amar e ser amado, as dores e delícias de tomar determinadas decisões, o que é sonho e o que nunca deixará de ser. O espelho já não é tão meu amigo - troquei-o pelo meu cérebro. Este, sim, faz e fará diferença sempre.