Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Hedwig e o Centímetro Enfurecido

"Hedwig" é de foder. Vc já viu? É o espetáculo teatral mais rock´n roll que vi nos últimos tempos. Há falhas, mas que sinceramente não deixam de passar o recado. É musical dos bons. Eu sei, eu sei que quem conhece Paulinho Vilhena da tv vai ficar com o pé meio atrás, mas acredite: ele dá banho. Talvez sua maior força seja a parceria. O cara faz dueto com Pierre Baitelli, um louro lindo que se traveste na mulher mais escrota que vc já conheceu. Juntos, eles surpreendem.
A peça conta a história de Hansel, um jovem gay alemão. Nascido em Berlim Oriental, Hansel conhece o militar Luther, por quem se apaixona. Este último, ainda que simulando idêntico sentimento, impõe a Hansel que troque de sexo, pois do contrário não se casaria com ele. A operação é feita com permissão da mãe, que não só autoriza a loucura como lhe dá seus documentos para que Hansel agora passe a se chamar Hedwig. A cirurgia é falha, e a agora Hedwig é abandonada por Luther num trailer em Kansas City, nos EUA. Sua frustração é vomitada em canções roqueiras que pilota à frente do "Centímetro Enfurecido", banda que ganhou o nome do que restou da tal operação. Os shows são feitos no subúrbio underground e grotesco dos EUA.
Mais tarde, Hedwig se apaixona pelo músico Tommy Speck, que rouba suas canções e se converte numa estrela do rock. Mais uma vez descartada, Hedwig passa a perseguir Tommy em sua turnê mundial, apresentando-se em bares sujos perto dos estádios onde ele toca para milhões de fãs. Durante seus shows, dá especial ênfase ao amor e à busca por sua cara-metade.
A peça de John Cameron Mitchell, que conta com letras e músicas assinadas por Stephen Trask, está em cartaz no Teatro das Artes. Com direção de Evandro Mesquita, tem colocado o teatro abaixo. O horário naõ é dos melhores - 23h30 às sextas e sábados, mas vale a pena. Exibido com sucesso nos Estados Unidos e em muitos países, a versão brasileira do musical tem cenário e iluminação sensacionais. E a banda que acompanha o trio (sim, é show de rock pauleira durante 1h10 com guitarrista, batera e baixo presentes) é irrepreensível.
A nota baixa vai para Eline Porto (que faz o papel de Yitzhak, novo amor de Hedwig), que deixa a desejar em muitas cenas e a tradução literal das músicas. Puxa, ali valeria trabalhar um pouco mais nas letras e apostar em rimas. Uma pena.
De qualquer forma, espetáculo atual que chama a atenção para a realidade gay e, ao mesmo tempo, proporciona conhecer esta estrela linda, loira e competentíssima que é Pierre Baitelli.

HEDWIG E O CENTÍMETRO ENFURECIDO – Texto de John Cameron Mitchel. Direção de Evandro Mesquita. Com Paulo Vilhena, Pierre Baitelli e Eline Porto. Teatro das Artes. Quarta e quinta, 20h; sexta e sábado, 23h30.

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