Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O porvir

Não há momento mais propício para pensar na nossa finitude do que aquele em que presenciamos a despedida de alguém. Ontem, fui a um enterro. Era alguém conhecido, mas estava ali principalmente pelos queridos que viviam em torno dela. É verdade. Muitas vezes, marcamos presença nestes encontros simplesmente pelo fato de termos gente que amamos em torno de quem se foi. Assim é a vida. Assim é a morte.
Um momento triste, difícil, inevitável.
A morte é a única coisa da qual temos certeza. Nada mais é tão inquestionável. De tudo o que vivemos, só sabemos uma coisa: vamos acabar. A vida que circula em nós, que nos dá força para seguirmos, um belo dia, voltará para onde veio. Se acreditamos em céu, ela irá para lá. Se preferimos a teoria de que viemos da terra, saiba que esta voltará a ela. Ou seja, retornará ao seu berço.
Incrível imaginar o quanto lembramos e fazemos questão de esquecer esta verdade absoluta. Talvez seja fuga, uma válvula de escape quanto ao que está porvir. O porvir. Caso contrário, não viveríamos. Ou viveríamos enlouquecidamente. Como diria meu amor, somos o único bicho que tem plena noção da morte. Temos os benefícios de ser racionais, mas por outro lado sabemos que somos etéreos. E temos que conviver com isso.
Ali, naquelas horas em que fazemos homenagens aos que já se foram, choramos. E não choramos só por eles, mas tb por nós. Pobres mortais, incapazes de frear o inevitável. Choramos tb pelos nossos mortos, que parecem que se enfileiram em nossas mentes em filmes em 3D em meio ao sofrimento alheio. Choramos por quem chora.
Quisera que fosse diferente. E se o fosse? Sobreviveríamos numa terra superpopulosa. Não sei se seria a melhor opção. Mas confesso que sou daquelas que queria que todos os que amo fossem poupados da dor. E que eu mesma fosse, é claro. E se assim não fosse possível, que chorássemos pela morte, mas sem homenagens póstumas. Por que não morrer simplesmente e depois virar purpurina? Imagina que bonito seria... Um punhado de purpurina colorida na cama de hospital onde minha avó fez a passagem?!... Não haveria sepultamentos, cemitérios, o fechar dos caixões, a derradeira viagem até a cova...
Que Deus esteja conosco. E nos dê forças para enfrentar o nosso luto. Seja ele qual for. E se puder, ainda nos dê sabedoria para que possamos lembrar em alguns poucos momentos (não todos!) de que somos perecíveis. Talvez assim possamos ser algo mais tolerantes, mais amorosos, mais presentes. Enfim, sermos pessoas melhores...

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