Eu sou do tempo em que o Jornal do Brasil fazia frente ao Globo. Não, não sou uma idosa, mas há 20 anos ainda havia sangue correndo nas veias dos jornalistas que habitavam aquele elefante branco q ficava ali na Av. Brasil, 500. Sangue nas veias, salários em dia, apoio da direção.
Eu começava no jornalismo e meu maior desejo era um dia trabalhar naquela redação. Era meio metida a saber das coisas mesmo e adorava a linha do jornal. Era assinante. Aficcionada. Doente por ele. E, é claro, por aquela equipe que reunia só feras.
Achava de um heroísmo o jornal ter passado pela ditadura com a postura que adorou na época. Imagina: era no mínimo um deboche publicar receitas de bolo na capa quando o AI-5 aterrorizava a sociedade. Corajoso.
E passeava com ele debaixo do braço pela facul. Abria nos jardins, acabava de ler. Reclamava da tinta que saía nos dedos, mas e daí? Mais um sinal de que era voltada às letras.
Aquele tempo passou.
Eu, que era leitora assídua, abandonei a leitura dele algum tempo depois de sair da faculdade. Meio reticente, meio chateada, mas pressionada pelos amigos jornalistas que me diziam que já não andava tao bem informada como antes. Eu já tinha certeza disso antes, mas fingia não ver. Naquela época, o JB já estava mal das pernas.
Fato é que o JB foi definhando. Ano após ano. Virou tablóide, saiu do elefante branco, perdeu páginas e, por fim, disseram que vai para internet. Confesso que de qualquer forma sinto falta "daquele JB".
A triste notícia desta data é que as máquinas que tanto tempo rodaram o que foi o que de mais imparcial já foi produzido no jornalismo carioca pararam. O JB acabou.
Hoje foi seu último dia de circulação.
Só sobraram dívidas.
E se eu tenho esta sensação de ficar meio órfã, imagina quem passou por lá de verdade. O meu sonho de trabalhar naquela redação não foi realizado. Nem será mais. Infelizmente...
Que descanse em paz, queridíssimo JB.
Nenhum comentário:
Postar um comentário