“Eu quero levar uma vida moderninha
Deixar minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
Mas eu me mordo de ciúme...”
Uma amiga recentemente acometida de um sentimento por ela desconhecido resolveu desabafar comigo (e com o mundo – pq ela tem um blog!) sobre o tema. Meio sem jeito e sem saber lidar muito bem com o que via, ela desabafou que não sabe se gosta desta pessoa na qual se transformou. Sim, ela tem ciúmes.
A conversa me incentivou a falar. Pois é... Embora possa não parecer, eu tive a mesma reação quando há algum tempo descobri que era possível sentir isso. Mesmo depois de dobrar o cabo da boa esperança, além dos 30, eu sentia uma angústia, uma falta de ar, uma insônia, uma vontade incontrolável de bater com a cabeça na parede. Não sabia identificar quais eram os momentos, mas de vez em quando esta sensação vinha. E eu pedia a Deus para que a fluoxetina fizesse efeito.
Rsrs...
Confesso que as sensações ainda existem. Em menor proporção, é claro. E – diante desta minha experiência extra-corpórea, porque aquela pessoa realmente não era eu - acho que a primeira coisa a fazer para combater esta doidice é mesmo aceitar o que sentimos. Seja raiva, inveja, desejo, pena, ciúmes... Por isso, assumo. Passo inicial: se ver como ser humano e como tal saber que somos passíveis a tudo. Pô, sou feita de carne e osso e certas coisas não dão em árvores, embora não sejam nada nobres. Então, posso permitir que eu desenvolva estes sentimentos. Segundo passo: quais são eles?? Toda merda acima citada e mais um pouco. É verdade. Dói saber que não somos exatamente o que esperávamos. Mas... fazer o quê? Nem tudo é perfeito.
Acredite, depois que consegui passar por estas fases, tudo começou a ficar mais fácil. Me sinto mais equilibrada, mais de bem comigo mesmo. Se sinto inveja – e não me venha com este papo bobo que “comigo isso não rola!!” ou “que horror, eu não sou invejosa!” – detecto o sentimento e vejo uma maneira de administrá-lo. Ou adquirindo o foco da minha inveja (se isso for saudável) ou simplesmente ralhando comigo mesmo. Se tenho raiva, ótimo. Isso não é novo: ela sempre esteve ali. A diferença é que agora convivo bem com esta possibilidade. Se tenho pena, não é legal, mas aceito e penso cada um tem a sua própria trajetória.
E isso não é psicologia barata. É a vida.
Quanto ao meu ciúme (ou seria no plural?), é um aprendizado constante. A terapia me ajudou muito, mas a maior responsável por esta pseudo-tranquilidade foi mesmo o ganho de auto-estima. Vem um pouco de mim, um pouco do outro, um pouco do meu meio. Tô curada? Nunca. De vez em quando, tenho meus surtos. Procuro fazê-lo sozinha, trancada no banheiro, com o chuveiro ligado – para não assustar os vizinhos. Rsrs... Brincadeirinha. Mas digo isso para frisar que ninguém é obrigado a presenciar nossas maluquices.
O curioso – e acho que é isso que surpreende esta amiga – é que antes era tudo diferente. Era um excesso de confiança, o qual não indico ninguém a ter. Tenho a certeza hoje que todo o mundo que é extremamente confiante em si mesmo é um sério candidato a cair do cavalo. Porque este extremo cega. Eu fui assim durante muito tempo e, por isso, quando dei de cara com a minha nova versão me desconheci. Ouvia até vozes! Rsrs... nada parecido com o Tasso da novela “Caminho das Índias”, mas a coisa tomava proporções que muitas vezes eu mesma tinha que me frear. Dar uns berros e uns sacodes, sabe?? Fantasiar é normal. Fantasiar coisas negativas beira o doentio.
O que mudou? Há algumas respostas, mas nunca saberei ao certo. Os traumas que ficam, as novas relações, as pessoas completamente diferentes com quem lidamos todos os dias. Tudo isso exerce uma influência sobre nós. É fato que disso resultará uma nova Karla ou uma nova Maria ou um novo José.
Já me disseram que quando temos uma característica muito forte e tomamos um choque, a etapa seguinte é se transformar no extremo oposto. É isso! Segui exatamente estes passos. Agora, o processo natural é ir desacelerando até chegar a um meio-termo, este lugar além dos céus desejado por 10 entre 10 pessoas. Eu sou mais uma.
Um pouco de ciúme é até bacana, acho eu. Por isso, deixo transparecer. Não sei se meu digníssimo concordaria com tudo isso, mas acredito que posso dizer que hoje – que avanço! - estou mais controlada. Acho que esta é a palavra. E acho mais: assim é que deve ser. Vamos ser felizes.