A mim não passou despercebido. Nem poderia. A tristeza que abala o Rio depois da tempestade da última semana é uma mancha na minha alegria por ter voltado à minha cidade. Não somente pela aflição de quem sofreu preso nos engarrafamentos e teme novos dilúvios, mas principalmente por quem perdeu tudo. E quando digo tudo é TUDO mesmo. Bens materiais nesta hora realmente são o mínimo para quem perdeu filhos, pais, parentes e amigos. É só mais uma dor a ser superada. Pequena, aliás, próxima da perda de quem amamos.
É fato: a cidade nunca esteve preparada para a chegada das águas de março. Não foi a primeira e não será a última. Sejamos práticos. A cidade não tem infra-estrutura para abrigar uma população mega como a q tem, além de ser pródiga em maus governos. Não estou aqui para falar deste ou daquele, mas é certo que há muito esta questão das chuvas já deveria ter sido resolvida.
A Praça da Bandeira é um gargalo - em todos os aspectos. Basta ir lá dar uma olhada no trânsito no horário de rush. É o mesmo que acontece durante uma tempestade: não tem para onde sair - nem a água, nem nós. Os bueiros não estão limpos por toda a cidade; o lixo não é devidamente recolhido; os moradores não são educados a procurar as latas para depositar inclusive suas guimbas de cigarro; e a Defesa Civil e os Bombeiros não estão preparados para tamanha demanda. Por fim, a população mais pobre ainda é incentivada por políticos - sem caráter e de olho nos votos que podem arrebanhar nas eleições - a fixar moradias em lugares de risco. Todo este cenário bombástico é o prenúncio de um holocausto. E foi exatamente o que aconteceu no Morro do Bumba, no Morro dos Prazeres, no Morro do Urubu.
Realmente, não acredito na cegueira dos nossos governantes. Acredito na nossa falta de maturidade na hora da escolha deles. Esta é a única resposta para dia após dia continuarmos optando por pessoas que só pensam em si, que se mantêm durante anos a fio no poder fazendo cagadas, por ainda recebermos de bom grado determinados "mimos" que posteriormente se mostram como presentes de grego, como asfaltamento em lugares que antes existia lixões.
Infelizmente, não tenho mais fé em uma mudança real e a curto prazo. Foi-se o tempo em que acreditava que o poder público de alguma maneira poderia fazer o seu papel: que é simplesmnete cuidar do bem estar da população. Hoje, acredito no trabalho da sociedade, dos cidadãos comuns, assim como o que temos visto nestes dias com a força do voluntariado feito por pessoas do bem, com vontade de ajudar o próximo, de auxiliar no dia-a-dia, de oferecer um ombro. Talvez esta mesma força possa se unir para educar (em todos os sentidos) os mais necessitados e, mais à frente, possamos saber eleger gente que valha a pena. Fora isso, só Deus.
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