Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Roni, meu poodle

O melhor presente que me dei nos últimos tempos foi ter adotado Roni, meu poodle. Ele chegou de mansinho, tristonho, órfão de pai e mãe. Demonstrou saudade e levou meses doente de amor. Porém, tão logo ele conheceu nosso sentimento por ele começou a se recuperar. E aproveitar. Roni é um cãozinho carente, dono de olhos pidões, pele rosada embaixo do pêlo que vez ou outra perde o branco natural e assume uma coloração encardida. Culpa do sobe-e-desce dos seus passeios à rua.
Sabe fazer uma festa como ninguém ao nos ver chegar, quer mostrar seus dotes como bípede, pulando e latindo como se quisesse falar. Dono de um rabo que nunca foi cortado, ganhou o apelido de “rabudo” do meu namorido e só de ouví-lo, sacode o dito cujo sem parar. Até hoje não sei se ele balança o rabo ou se o rabo o balança. Afinal, sua cauda tem quase vida própria.
Pouco late, mas ao ouvir qualquer ruído dá sinal. É forte e frágil. É um cãozinho disposto a defender seu território, embora o medo seja uma constante. Teme e ama seres humanos, sentimentos opostos e ao mesmo tempo tão próximos de sua realidade canina. Basta uma menção de carinho que ele logo se desmancha e se aproxima abanando um rabo feliz.
Dedicado. É capaz de ficar horas ao meu lado enquanto leio. Paciente. Deita-se no chão do banheiro e aguarda até que eu acabe o banho. Amoroso. Encosta o focinho na nossa barriga só para ganhar mimos em maior quantidade. Educado. Faz toda a sua sujeirinha em seu banheiro. E só passeia quando temos tempo. Coloco a coleira e ele mesmo carrega sua guia segura entre os dentes. Foi um bom aluno; é um grande professor.
Antes dele, a casa era vazia, embora eu não sentisse esta sensação. Agora, se não ouvir seu latido quando chego ao portão já sinto um pesar. Para um cão, não há momento mais alegre do que ver seu dono chegar. E para mim é felicidade pura e genuína saber que existe um ser tão pequeno que se derrete ao me ver. Minha casa é a casa dele. Aliás, é o inverso: a casa dele é a minha, afinal eu é que o visito todas as noites.
Roni não curte bolinhas, ossinhos ou brincadeiras caninas. A dele é outra. Sua curtição é estar conosco. Na praia, passa o dia sentado em sua cadeira e, por conta disso, é sempre a atração do lugar. No restaurante, fica pacificamente embaixo da mesa, embora adore todo tipo de guloseimas humanas. Mas é um lorde, principalmente, incapaz de qualquer grosseria.
Dono de uma beleza cativante, de uma amizade fidelíssima, Roni é mais do que um grande amigo. É um companheiro incrível, uma criaturinha mágica, um presente dos deuses. Uma amiga, certa vez, me disse que “cães são seres humanos em evolução”. É, pode ser. Pode ser.

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