Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Rita

Oito de dezembro, dois anos sem Dona Rita, minha avozinha querida. O dia amanheceu chuvoso, diferente do que foi naquele 8/12 de 2007. Era um dia lindo, céu azul. Show do Police no Maracanã e eu tinha passado pelo menos uns três meses na expectativa de ir ver o Sting. Uma empolgação doida. Voltava de Manaus a trabalho. A chegada ao Rio, porém, me reservava uma triste surpresa. Desisti do Police; tudo perdeu a importância. Fui me despedir da minha segunda mãe.
Curiosa esta questão da saudade. Em alguns momentos, acho que a saudade vai abrandando até que esquecemos das pessoas. Não conseguimos mais nos lembrar dos gestos, da voz, do riso. E assim aquela imagem se perde no horizonte da nossa memória. É preciso ver fotos, assistir a vídeos, ouvir histórias de quem estava ali, junto, para trazer à tona detalhes passados. No caso de perdas irreparáveis, a saudade é crescente. Nossa, quanta falta ela me faz! Dos papos, da cumplicidade, do companheirismo, da torcida sempre presente e até da cara feia quando eu xingava palavrões. Sei que fui a neta mais amada e mais mimada do mundo.
Bom ter esta lembrança... pena que hoje isso é só uma lembrança.
Com ela, aprendi a cozinhar além do básico, aprendi que a infância é um mundo de sonhos, aprendi que é preciso querer sempre mais, aprendi que é preciso ser feliz. Às vezes, o aprendizado vem pela dor, como na despedida dela. Tão jovem, tão doce, tão cheia de vida ainda, mas guardando em si um monstro capaz de dilacerar suas forças. Uma doença que toma conta de tudo.
Tenho plena noção de que eu poderia ter sido mais para ela. De que eu poderia ter estado mais presente, mais ao lado, mais perto. Não fiz nem o que pude. Estava sempre ocupada, sempre pre-ocupada com as minhas coisas. E ela ali. Firme e forte. Hoje, já não a tenho mais. E vejo que eu tinha tempo, que eu podia ter feito mais para aprveitar mais aquele tempo dela enquanto ela estava bem, mas não me dei conta disso. Realmente hoje vejo que ela não era eterna.
Enfim, até neste momento ela me ensina.
Curti muito cada momento com ela, mas poderia ter sido um pouquinho mais. Queria muito que meus filhotes tivessem a avó que tive, que leva à praia nas férias, que vira criança brincando junto de massinha, que acompanha o crescimento, que faz comidinhas especiais, que ouve as histórias sempre interessada, que quer saber cada sentimento que se passa dentro do outro.
Mas eles não terão... Não a mesma. Espero que a deles tb seja tão especial, tão cheia de virtudes, tão amiga. E que eles possam enxergar isso.
Ter alguém com quem contar sempre é divino.
Fica a saudade e o aprendizado.
Valeu, Vozinha. A gente se encontra por aí.
Amo você.


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