Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Raridade

Tenho passado por dias em preto-e-branco. Sabe do que se trata? Quando não se vê muita cor em nada. Não estou exatamente triste, não. Estou pensativa, olhando o mundo ao redor, analisando gestos. Não, não é culpa simplesmente do cansaço por conta do trabalho, a correria para fechar projetos, o estresse de aguentar quem não entende nada do que faço e cisma em colocar um dedinho, a sua opinião, carimbar sua marca.
Eu sei, adoro me auto-medicar. Grave erro. Mas nunca - digo nunca mesmo - sugeri que o médico (especialista no assunto) me receitasse tal remédio ou pílula X. No jornalismo é diferente, né?
Fato é que estou na minha, meio de saco cheio das pessoas. Na verdade, estou desencantada (ou me desencatando) para ser mais exata. E como conviver com elas? Faço comunicação, ou seja, é impossível não ter contato com o mundo. Se ao menos tivesse escolhido ser artista plástica, cientista ou astronauta. De certa forma, tais profissões apontam para momentos mais íntimos, mais fechados, solitários até. Não é o caso.
O pior é que não me deparo com a dificuldade de lidar com qq pessoa. De repente, comecei a achar que os mais próximos estão perdendo um pouco a cor nas fotografias. Saca a questão? Comecei a vê-los mais reais, mais de carne e osso, mais humanos mesmo. Longe daquele ideal que eu mesma inventei para eles. E este processo realmente é muito dolorido.
Meu pai dizia que os amigos dele se resumiam às notas que tinha no bolso. Prefria a família. Sempre o achei radical neste sentido. "Talvez fosse a idade", pensava. Mas confesso q de uns tempos para cá passei a pensar na questão com mais atenção. Não estou falando de gente que se interessa pelo meu dinheiro. Isso, sim, seria uma piada. Uns poucos tostões no bolso não seriam o suficiente para atrair ninguém. Mas de uma maneira mais macro falo de gente que orbita em torno da gente só enquanto estamos bem, enquanto somos uma boa companhia, saudável, engraçada, de bem com a vida.
É triste pensar isso, mas é verdade. O ser humano em si é egoísta mesmo. É interesseiro. Um grande amigo, um dos nove leitores deste espaço.com, me disse q em 25 anos de carreira não fez 25 amigos. Eu acho que ele é otimista. Se ele tiver feito 10 deve agradecer a Deus. Talvez o restante seja colega, companheiros de noitadas, bons para jogar papo fora e beber umas(para quem bebe, é verdade!).
Já passei por momentos difíceis na vida e sou capaz de contar nos polegares quem continuou ao meu lado. Se eu deixei de vê-los? Sim, da maneira como era no passado. Mas de vez em quando ainda bebo umas com eles. Nada que me atinja. Só os rotulei corretamente passada a fase mais crítica.
Enfim, quem quer afinal uma pessoa chorona, derrotada, doente, triste ao seu lado? Só quem realmente for amigo. E isso, queridos, é coisa rara de se ver.
Raríssima...

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