Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O perdão e a novela das oito

A nobreza do perdão não é para qualquer um. A grandiosidade do esquecimento, na minha opinião, pertence aos perfeitos de alma, entre os quais não estou inserida. Após assistir a mais de seis meses às desventuras de Carminha no horário nobre e à sua derradeira cena ao lado de Nina (ou Debora Falabella), vi que não faço parte realmente deste mundo cor-de-rosa. Também não sou o tipo de bater no peito e, feliz, berrar aos quatro ventos que não sou capaz de perdoar, ou seja, não é algo do qual me orgulhe, mas também não me envergonha.

Para entender do que falo, basta dar uma clicada no You Tube e rever as cenas em que exemplarmente Adriana Esteves vive uma das maiores megeras que a telinha já mostrou. Sim, tem um toque de bom humor – que bom! Mas de um modo geral ela é covarde, dissimulada, cruel, fdp mesmo. É capaz de amar? Sim. É alguém que gerou gente do bem? Claro. Pode ter sentido piedade e/ou ter sido solidária em dados momentos? Sem dúvida. Porém, nada disso apaga dela a sombra do quanto ela fez as pessoas sofrerem com suas falcatruas.
O perdão é lindo, mas realmente é para poucos. Você conseguiria desculpar uma mãe que passou o tempo todo te fazendo passar por louco só para não ser desmascarada? Foi o caso do Jorginho. Você perdoaria uma mulher que te traiu e roubou seu dinheiro durante 12 anos dentro da sua própria casa com seu cunhado? O Tufão que o diga. Você conseguiria passar por cima das lembranças de sua infância, que teriam como cenário um lixão para onde sua madrasta te enviou quando ainda era uma criança? A Nina é uma heroína...
Não estou aqui levantando bandeira para nenhum dos lados em questão. Até admiro quem consegue superar as dificuldades inerentes às relações humanas e desculpar o outro, seja qual for a situação. Só não acho que quem não é tão evoluído a este ponto deva ser massacrado. Ter gerado este debate em torno do perdão é uma característica da novela de João Emanuel Carneiro que por si só já a faz entrar para a história. Mesmo que não concordemos com o fim que ele escolheu para suas personagens principais, vale a tentativa de mobilizar o público mais uma vez. E nisso ele foi mestre.

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