Não, não sou boa de despedidas. Isso já sei há tempos. Talvez seja o meu legado na morte repentina do meu pai. Sou chorona, penso e repenso, personalidade totalmente em dúvida. Sempre. Hoje, por absoluta falta de vontade de continuar pensando, analisando, avaliando a minha vida e os caminhos q ela tomou tive coragem de bancar um abandono. Um abandono vindo de mim: dei um tempo da terapia.
Eu sei que já vinha cogitando esta possibilidade há meses, mas a coragem vinha e voltava. Cada dia uma novidade me fazia pensar melhor. Uma novidade e a certeza de que é muito difícil encarar a vida de frente sozinha. Absolutamente só. Sem ter a quem pedir uma opinião, sem ter aquela hora semanal para desabafar até cansar, sem ter certeza de que a estrada pode ser proveitosa.
Você vai pensar, nobre leitor, que a gente acaba criando uma dependência e que não há conselho terapêutico que seja certeiro, até porque analistas não são deuses. Mas aprendi que ter uma pessoa ao nosso lado que nos conhece muito e que estudou a psicologia por anos a fio, no mínimo, nos garante que mesmo se render uma grande merda em algum momento vc vai sair lucrando. Pelo menos é um alento...
Com o tempo, a terapeuta ganha uma importância monstruosa na vida de qualquer reles mortal. A minha se transformou numa amiga, numa confidente, numa quase-mãe - embora a minha ainda exista e eu a ame muito. Tudo isso num pacote embrulhado com os laços de fita do conhecimento. Ou seja, tristeza por deixá-la, alívio por parar de me deparar comigo mesmo.
Sim, a terapia é este momento. E cada um sabe "a delícia e a dor de ser o que é". Eu, absolutamente exausta dos meus questionamentos, jogo a toalha. Não aguento mais me olhar, não aguento mais buscar novos caminhos. Quero descansar um pouco. Eu sei: é um adeus temporário, mas necessário. Ao fim de sete anos, preciso simplesmente ser um barco à deriva e parar de me debater contra as ondas.
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