A nobreza do perdão não é para qualquer um. A grandiosidade do esquecimento, na minha opinião, pertence aos perfeitos de alma, entre os quais não estou inserida. Após assistir a mais de seis meses às desventuras de Carminha no horário nobre e à sua derradeira cena ao lado de Nina (ou Debora Falabella), vi que não faço parte realmente deste mundo cor-de-rosa. Também não sou o tipo de bater no peito e, feliz, berrar aos quatro ventos que não sou capaz de perdoar, ou seja, não é algo do qual me orgulhe, mas também não me envergonha.
Para entender do que falo, basta dar uma clicada no You Tube e rever as cenas em que exemplarmente Adriana Esteves vive uma das maiores megeras que a telinha já mostrou. Sim, tem um toque de bom humor – que bom! Mas de um modo geral ela é covarde, dissimulada, cruel, fdp mesmo. É capaz de amar? Sim. É alguém que gerou gente do bem? Claro. Pode ter sentido piedade e/ou ter sido solidária em dados momentos? Sem dúvida. Porém, nada disso apaga dela a sombra do quanto ela fez as pessoas sofrerem com suas falcatruas.
O perdão é lindo, mas realmente é para poucos. Você conseguiria desculpar uma mãe que passou o tempo todo te fazendo passar por louco só para não ser desmascarada? Foi o caso do Jorginho. Você perdoaria uma mulher que te traiu e roubou seu dinheiro durante 12 anos dentro da sua própria casa com seu cunhado? O Tufão que o diga. Você conseguiria passar por cima das lembranças de sua infância, que teriam como cenário um lixão para onde sua madrasta te enviou quando ainda era uma criança? A Nina é uma heroína...
Não estou aqui levantando bandeira para nenhum dos lados em questão. Até admiro quem consegue superar as dificuldades inerentes às relações humanas e desculpar o outro, seja qual for a situação. Só não acho que quem não é tão evoluído a este ponto deva ser massacrado. Ter gerado este debate em torno do perdão é uma característica da novela de João Emanuel Carneiro que por si só já a faz entrar para a história. Mesmo que não concordemos com o fim que ele escolheu para suas personagens principais, vale a tentativa de mobilizar o público mais uma vez. E nisso ele foi mestre.
Uma jornalista, cabeça a mil. Vontade de debater o mundo que me rodeia, comentar o dia-a-dia, trocar ideias livremente. A busca por um espaço democrático onde pudesse exercer minha criatividade e mostrar minha visão da vida resultou em "Crônicas de Saias".
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Sentimentos demais*
Vamos ser francos: nosso problema não é sexo. Isso se arranja com facilidade. O que nos exaspera são as relações que estabelecemos a partir do sexo, ou apesar dele. O que nos sufoca é aquilo que se faz antes e depois de transar. A pessoa que fica ali – ou que gostaríamos que ficasse, mas não fica – constitui nosso maior problema, e talvez nossa única solução. Estar com alguém mais do que ocasionalmente, porém, constitui um desafio insolúvel – tanto quanto um prazer imensurável.
As pessoas têm manias, têm temperamento, têm hábitos que nos incomodam. Elas reclamam de tudo, pateticamente. Elas se enfurecem com tudo, histericamente. Elas têm problemas, opiniões, desejos, amigos. Elas são lindas e nos causam ciúme. Elas são controladoras e nos irritam. Elas podem ser frívolas e indiferentes. Frequentemente mergulham nelas mesmas e nos deixam entregues às apreensões e receios. Às vezes queremos que sumam, morram, pelo-amor-de-deus desapareçam. No outro dia acordamos sem elas e o coração perde duas batidas, de medo.
Na verdade, sofremos de sentimentos demais. Eles transbordam, excedem, afogam. Seria infinitamente mais simples se fôssemos como os outros. Veja o casal do elevador, o professor de natação e a namorada dele.
Obviamente felizes, simples, calmos. Trocam duas palavras e um olhar entre o quinto e o térreo. Gente bem resolvida. É impossível que ela chore de noite por temer que ele não a ame. Evidentemente ele não se isola diante da televisão e tenta aplacar os nervos vendo um filme inútil. Eles certamente nunca se metem em discussões dolorosas. Sabem o que fazer deles mesmos e do seu amor. Eles têm as respostas. As criaturas esquisitas somos eu, você e os nossos parceiros. Eles, os outros, são simples e felizes. Gente bem resolvida.
Os sentimentos são o nosso principal problema, claramente. Estamos encharcados deles. Sentimentos de toda espécie, misturados. Você olha para aquela pessoa que abriu a porta e eles afloram, conturbados. Quanta aflição não esconde um abraço? A gente então conversa, e a confusão reflui. A gente espanta o assombro com a nossa voz e o nosso riso. A trivialidade nos resgata como um bote salva vidas. Nos olhos
da mulher que a gente ama há uma praia tranquila onde a gente ancora – até que o mar no interior dela se agite e a paz efêmera se perca. De novo.
Gostaríamos que não fosse assim, claro. Preferiríamos ser gente simples, composta, direta. Em vez de todas as memórias dolorosas que trazemos conosco, paz. Em vez da confusão de planos e aspirações, clareza. Nada de turbulência submersa, nenhuma recordação inconfessável, apenas superfície indevassável e tranquila, como um lago.
Imagine deslizar a mão pelo corpo macio dela sem que a cabeça esteja tomada por ideias conflitantes. Que genial fazer amor sem que nele se projete, num rosnado, o velho arsenal de ressentimentos que parece ter nascido conosco. O sexo então seria puro, biológico, em vez de uma batalha épica entre o bem e o mal, entre o público e o privado, entre o certo e o errado que nos habitam. E, depois do prazer, enrolar-se cheio de ternura e de angústia agridoce naquela criatura que ofega. Sentir-se pai, filho, irmão, apaixonado, opressor-filho-da-puta, canalha, marido. O que mais?
Os sentimentos não nos largam, indecifráveis. O carro trafega a 40 km por hora, numa alameda ensolarada, e a lembrança de um certo olhar pungente quase nos leva às lágrimas. De onde vem essa emoção? Certamente da música, um samba travesso de Chico Buarque que nos conecta a tudo e a todos, num momentâneo abraço cósmico pós-eleitoral. Somos todos irmãos, ela me ama, a morte mora numa toca no fim da eternidade, tudo é lindo.
Sejamos francos: nosso problema não é sexo, é amor. Encontrá-lo, conquistá-lo, torná-lo parte da nossa vida e, ao final, talvez, detestá-lo. Nosso problema é preservar esse amor em meio à tempestade de trovões dos nossos sentimentos. Cuidar para que o fascínio físico dos primeiros dias não se perca, evitar que a confiança que vem depois não nos cegue de tédio. Nossa tarefa, gigantesca, é fazer com prazer – e com o mínimo de sanidade – as coisas que se fazem antes e depois de trepar. A pessoa que fica ao nosso lado nesse intervalo é nosso maior problema, e talvez a única solução.
*By Ivan Martins
As pessoas têm manias, têm temperamento, têm hábitos que nos incomodam. Elas reclamam de tudo, pateticamente. Elas se enfurecem com tudo, histericamente. Elas têm problemas, opiniões, desejos, amigos. Elas são lindas e nos causam ciúme. Elas são controladoras e nos irritam. Elas podem ser frívolas e indiferentes. Frequentemente mergulham nelas mesmas e nos deixam entregues às apreensões e receios. Às vezes queremos que sumam, morram, pelo-amor-de-deus desapareçam. No outro dia acordamos sem elas e o coração perde duas batidas, de medo.
Na verdade, sofremos de sentimentos demais. Eles transbordam, excedem, afogam. Seria infinitamente mais simples se fôssemos como os outros. Veja o casal do elevador, o professor de natação e a namorada dele.
Obviamente felizes, simples, calmos. Trocam duas palavras e um olhar entre o quinto e o térreo. Gente bem resolvida. É impossível que ela chore de noite por temer que ele não a ame. Evidentemente ele não se isola diante da televisão e tenta aplacar os nervos vendo um filme inútil. Eles certamente nunca se metem em discussões dolorosas. Sabem o que fazer deles mesmos e do seu amor. Eles têm as respostas. As criaturas esquisitas somos eu, você e os nossos parceiros. Eles, os outros, são simples e felizes. Gente bem resolvida.
Os sentimentos são o nosso principal problema, claramente. Estamos encharcados deles. Sentimentos de toda espécie, misturados. Você olha para aquela pessoa que abriu a porta e eles afloram, conturbados. Quanta aflição não esconde um abraço? A gente então conversa, e a confusão reflui. A gente espanta o assombro com a nossa voz e o nosso riso. A trivialidade nos resgata como um bote salva vidas. Nos olhos
da mulher que a gente ama há uma praia tranquila onde a gente ancora – até que o mar no interior dela se agite e a paz efêmera se perca. De novo.
Gostaríamos que não fosse assim, claro. Preferiríamos ser gente simples, composta, direta. Em vez de todas as memórias dolorosas que trazemos conosco, paz. Em vez da confusão de planos e aspirações, clareza. Nada de turbulência submersa, nenhuma recordação inconfessável, apenas superfície indevassável e tranquila, como um lago.
Imagine deslizar a mão pelo corpo macio dela sem que a cabeça esteja tomada por ideias conflitantes. Que genial fazer amor sem que nele se projete, num rosnado, o velho arsenal de ressentimentos que parece ter nascido conosco. O sexo então seria puro, biológico, em vez de uma batalha épica entre o bem e o mal, entre o público e o privado, entre o certo e o errado que nos habitam. E, depois do prazer, enrolar-se cheio de ternura e de angústia agridoce naquela criatura que ofega. Sentir-se pai, filho, irmão, apaixonado, opressor-filho-da-puta, canalha, marido. O que mais?
Os sentimentos não nos largam, indecifráveis. O carro trafega a 40 km por hora, numa alameda ensolarada, e a lembrança de um certo olhar pungente quase nos leva às lágrimas. De onde vem essa emoção? Certamente da música, um samba travesso de Chico Buarque que nos conecta a tudo e a todos, num momentâneo abraço cósmico pós-eleitoral. Somos todos irmãos, ela me ama, a morte mora numa toca no fim da eternidade, tudo é lindo.
Sejamos francos: nosso problema não é sexo, é amor. Encontrá-lo, conquistá-lo, torná-lo parte da nossa vida e, ao final, talvez, detestá-lo. Nosso problema é preservar esse amor em meio à tempestade de trovões dos nossos sentimentos. Cuidar para que o fascínio físico dos primeiros dias não se perca, evitar que a confiança que vem depois não nos cegue de tédio. Nossa tarefa, gigantesca, é fazer com prazer – e com o mínimo de sanidade – as coisas que se fazem antes e depois de trepar. A pessoa que fica ao nosso lado nesse intervalo é nosso maior problema, e talvez a única solução.
*By Ivan Martins
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Eu amo a rotina
Não, não sou organizada. Meu canto é uma zona, mas é meu canto. E aqui leia-se a minha casa ou minha mesa no escritório. Curiosamente, sei exatamente onde tudo está. Conheço minha bagunça organizada, onde cabem desde eu e meu cãozinho até minhas quinquilharias, meus textos mais primorosos e canetas sem tinta. Esta sou eu. Esta é a minha rotina.
Gosto de saber que as coisas ficaram onde deixei ontem. No trabalho, sei a hora q posso chegar e sair, posso ficar até mais tarde - até sozinha, como acontece inúmeras vezes, posso levar marmita e comer
sossegada na mesa, rearrumar (ou não) o meu dia do meu jeito, posso levar meu cafe ou deixar para filar o pão alheio, tenho o meu computador com as minhas fotos, minhas gavetas com minhas coisas. Ali, eu crio minhas regras e meu dia a dia. É o meu espaço e sei até onde posso ir. É massacrante viver às cegas.
Na minha vida pessoal, no dia a dia, tb sou assim. Acho q bem ao contrário do que a maioria dos mortais... rsrs... adoro saber q tenho uma família mala (como tantas outras), mas q me apóia, uma cama quentinha no fim do dia de trabalho, amigas para me emprestar um ombro, ginástica para fazer pelo menos duas vezes por semana (sim, eu tô indo...), um amor que seja meu parceiro e faça sexo gostoso, um cãozinho q sei q vai lamber minha cara para me acordar pela manhã... Gosto de saber q às terças tem Tapas e Beijos, que nos findes como bolo pela manhã, q meu namorado me ligará 900 vezes durante o dia. Amomuitotudoisso. É a minha vida, minha rotina.
E, embora possa parecer q não goste de mudanças, é justamente o contrário. Sou totalmente a favor delas – contanto que não venham embaladas com o papel do inesperado. Gosto da rotina e amo saber q posso sair dela vez ou outra e depois voltar quando quiser. É tão reconfortante. Comer pizza todos os sábados? Pq não? Viajar sempre ao mesmo lugar... Não vejo problema se lá é bacana. Mas tb quando quiser ir para um destino exótico, não me cobrem coerência. Estar durante anos com a mesma pessoa? Se for gostoso, até o fim da vida... Qual é o problema?
É, realmente, sou uma pessoa bem previsível... rsrs...
Porém é bom saber que cheguei à idade dos sábios, na qual sabemos exatamente onde estamos e quem somos. E amamos o que vemos.
Gosto de saber que as coisas ficaram onde deixei ontem. No trabalho, sei a hora q posso chegar e sair, posso ficar até mais tarde - até sozinha, como acontece inúmeras vezes, posso levar marmita e comer
sossegada na mesa, rearrumar (ou não) o meu dia do meu jeito, posso levar meu cafe ou deixar para filar o pão alheio, tenho o meu computador com as minhas fotos, minhas gavetas com minhas coisas. Ali, eu crio minhas regras e meu dia a dia. É o meu espaço e sei até onde posso ir. É massacrante viver às cegas.
Na minha vida pessoal, no dia a dia, tb sou assim. Acho q bem ao contrário do que a maioria dos mortais... rsrs... adoro saber q tenho uma família mala (como tantas outras), mas q me apóia, uma cama quentinha no fim do dia de trabalho, amigas para me emprestar um ombro, ginástica para fazer pelo menos duas vezes por semana (sim, eu tô indo...), um amor que seja meu parceiro e faça sexo gostoso, um cãozinho q sei q vai lamber minha cara para me acordar pela manhã... Gosto de saber q às terças tem Tapas e Beijos, que nos findes como bolo pela manhã, q meu namorado me ligará 900 vezes durante o dia. Amomuitotudoisso. É a minha vida, minha rotina.
E, embora possa parecer q não goste de mudanças, é justamente o contrário. Sou totalmente a favor delas – contanto que não venham embaladas com o papel do inesperado. Gosto da rotina e amo saber q posso sair dela vez ou outra e depois voltar quando quiser. É tão reconfortante. Comer pizza todos os sábados? Pq não? Viajar sempre ao mesmo lugar... Não vejo problema se lá é bacana. Mas tb quando quiser ir para um destino exótico, não me cobrem coerência. Estar durante anos com a mesma pessoa? Se for gostoso, até o fim da vida... Qual é o problema?
É, realmente, sou uma pessoa bem previsível... rsrs...
Porém é bom saber que cheguei à idade dos sábios, na qual sabemos exatamente onde estamos e quem somos. E amamos o que vemos.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Ah, o amor...
"Se me perguntarem qual o sentimento que considero mais bonito ou mais importante, vou abrir um sorriso e dizer: o correspondido!"
(Martha Medeiros)
(Martha Medeiros)
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